quarta-feira, 1 de abril de 2009

O ME e as faltas dos alunos, mais um estudo de mentirinha?

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Este texto do Paulo Guinote veio na íntegra!

E Qual Foi A Unidade De Análise Usada?


Felizmente já é possível, por estes dias e em parte graças à blogosfera (não necessariamente anónima) denunciar a falta de rigor e oportunismo de certos anúncios propagandísticos do ME.

Vejamos o caso da redução estatística das faltas dos alunos, guardando para o final o meu comentário.

Redução de faltas poderá não ser real, advertem escolas

Os alunos do ensino básico e secundário estão a faltar menos, como agora anunciou o Ministério da Educação (ME), ou são as escolas que estão a contabilizar menos faltas do que aquelas que foram dadas? A polémica estalou na sequência dos dados divulgados segunda-feira, pelo ME, apontando para uma redução, no primeiro período, de 22,5 por cento no número de faltas registado no 3º ciclo e de 22,4 por cento no secundário.

A ministra da Educação atribui o feito ao novo Estatuto do Aluno, que obriga os faltosos à prestação de provas de recuperação. Os números revelam que há meios mais racionais para combater o absentismo do que a “ameaça de chumbo”, disse Maria de Lurdes Rodrigues. “Um progresso absolutamente extraordinário”, comentou o primeiro-ministro.

Mas nas escolas o anúncio está a ser recebido com alguma “perplexidade”. Responsáveis contactados pelo PÚBLICO recordam, a propósito, que por força do novo Estatuto do Aluno, aos estudantes que fizeram provas de recuperação e tiveram positiva, são retiradas as faltas registadas, o que não quer dizer que tenham faltado menos.

“Podem ir acumulando faltas, acumulando provas e ir voltando sempre à estaca zero. É o que a lei prevê”, resume Isabel le Gê, presidente do conselho executivo da escola D. Amélia, em Lisboa. É uma das “perversidades” que aponta ao novo Estatuto do Aluno. O de ir contra a acção formativa que deve ser a da escola: “Promove-se o oportunismo.” “Para os alunos que trabalham e são responsáveis é um insulto”, diz, dando conta de queixas que tem vindo a receber.

“Até se pode estar a promover mais o absentismo e as estatísticas mostrarem o contrário”, admite Maria José Viseu, professora e presidente da Confederação Nacional Independente de Pais, que acrescenta: “Para sabermos se houve ou não uma redução, é preciso ver primeiro quantas faltas foram retiradas do cadastro na sequência das provas de recuperação”.

Nos blogues de professores, a coberto do anonimato, são vários os docentes que dão conta de outras realidades. Por exemplo, casos de directores de turma que não passam para o sistema informático todas as faltas dos alunos de modo a evitarem, assim, a proliferação de provas de recuperação; de professores que, com o mesmo objectivo, começaram a poupar nestes registos.


Tudo o que é relatado nesta peça é real. O novo sistema de registo da assiduidade dos alunos é um convite à farsa. Depois de fazerem a prova de recuperação os alunos têm o cadastro limpo. Para além disso, em ano de sobrecarga e desgaste, andar a marcar faltas para fazer provas de recuperação que ninguém leva a sério está longe de ser estimulante. E mais não digo, porque eu até fiz provas de recuperação e estou a leccionar 2º CEB.

Mas há uma questão que não vi abordada nesta notícia, mas já passou pelos comentários do Umbigo e que se prende com a unidade de análise usada para a marcação de faltas e para os cálculos do ME.

A verdade é que se tornou usual em muitas escolas que a falta a um bloco de 90 minutos corresponda a uma única falta, quando antes isso correspondia a duas faltas por cada bloco de 45 minutos.


Ora se o ME considera, o que seria grave e metodologicamente erróneo se for para efeitos comparativos, por igual faltas a blocos de 45 minutos e a blocos de 90, sem distinguir umas faltas das outras, todos os cálculos e conclusões do chamado Inquérito à Assiduidade estão viciados.

Seria aconselhável, portanto, que o ME esclarecesse a metodologia usada visto que no passado, em relação à assiduidade dos docentes, o que conhecemos é a utilização de truques estatísticos para efeitos demagógicos de mistificação da opinião pública.

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3 comentários:

TVstar disse...

É esta teia em que nos encontramos envolvidos que é difícil desmascarar.Mas vamos conseguir!!
Juntos conseguiremos!!!

manufactura disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
manufactura disse...

Pois na minha escola fui confrontada com uma situação em que a directora de turma em conluio com o executivo retirou, apagou, faltas injustificadas a um aluno,na minha disciplina e na minha rebelia:( tive de me empertigaitar, que eu não vivo no arrocho da fé alheia e nem aprendi a nadar porque me estava a fogar:):):)
RESISTAM...caso contrário mais vale começar já a andar pelas ruas com um cagalhoto na cabeça! Ou meter já a cabeça numa janela daquelas tipo guilhotina...
HÁ QUEM MORRA SEM O SEU REBANHO!!!E como eu não nasci ovelha:) aconselho aos mestres "desta pastorícia" uma águinha das malvas bem quentinha!
Peço desculpa se arranho alguns ouvidos na acometida da minha língua, sou uma pardaleca rafeira cujo prazer é marcar as vírgulas e a imperfeição dos números irracionais:):):)