quinta-feira, 28 de maio de 2009

"Das razões e da consciência tranquila"

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Um texto admirável. A Teresa tem este dom do manejo das palavras pontuadas de sentimentos e seriedade.


Não é porque tem de ser, porque 'bora lá todos juntos para provar que..., porque isto, porque esta cor... porque este grupo..., porque parece mal se não formos todos, porque unanimidades, porque mostrar aos outros que, porque...

Uma manifestação parece um gesto no colectivo mas, para alguns (muitos? espero...) é apenas a continuação de um somatório de gestos individuais coerentes (não apenas mais um grito isolado, frequentemente inconsequente para a pessoa que o dá, apenas para aliviar o sufoco que causa acatar, entre manifestações, tudo o que é imposto).
Não quero falar de estratégias de luta, comentar os gestos dos outros, porque o meu contexto de vida é o meu, as minhas razões são minhas e cada um é como cada qual. Escutei discursos como: tu tens jeito para fazer outras coisas, portanto se ficares sem emprego sempre podes fazer outra coisa (a propósito de não querer ser titular, ou de não entregar os ois.)... Tu não tens de concorrer, mas eu tenho e não quero ser prejudicado/a... Medos reais que invadem as salas de professores nestes tempos. Sei que muitos destes professores estarão presentes na manifestação... ajudarão a compor o número... mas... terão ajudado/ajudarão à causa?

Ainda tentei explicar a um ou outro colega que decidiram de voz bem alta não ir (os motivos variam de uns para outros... soberba diversidade!) as razões pelas quais vou. Mas já percebi que não (co)movo ninguém previamente decidido.
Partilho aqui hoje algumas reflexões dispersas sem a pretensão de convencer alguém. Estava prometido.

Nunca fui pessoa de ajuntamentos, de grandes grupos. Não tenho sequer um grande grupo de amigos, saio pouco e passo muitas das minhas horas sozinha. Gosto. Escolhi-me assim.
Vivi neste ano as minhas primeiras manifestações de rua. Não consigo preferir um clube, seleccionar um sindicato, tenho dificuldade em escolher porque gosto de escutar e de provar primeiro antes de decidir quais são em cada momento os meus divergentes caminhos. Já não considero isso um defeito: é mesmo uma questão de feitio que me molda desde que disse olá à vida.

Como não moro longe, se não tiver boleia, embora existam autocarros para nos levar, não farei o caminho em grupo. Aproveitarei a viagem solitária de combóio (gosto muito) para reflectir no próximo passo que se aproxima e é bem mais significativo do que este tão simples de escolher ir... e ir.

Quando decidi não entregar os ois não foi nem por birra, nem para aproveitar os buraquinhos das mal feitas leis. Como consequência fui notificada (?) e informada de que o 37 do ECD não se vai aplicar.
A decisão prendeu-se com outras causas. Sou convicta e visceralmente contra a divisão absurda e arbitrária da carreira, contra este modelo de ECD, desde a raíz das coisas, que transformou em avaliador qualquer um com ou sem competência para tal, por acaso ou sorte contextual e que funciona com indicadores, métodos e considerações que nada dizem sobre o nosso trabalho, consumindo em burocracias o tempo que agora já não há (também por conta dos seus desgovernos) nem sequer para o que interessa.
Essa foi a razão para não me candidatar a titular, para não entregar os ois, para não me calar nunca em todos os espaços à minha volta. Não pretendo ser avaliada por um modelo que nada me acrescenta e que tudo me retira, não me deixando crescer nem aprender mais, impedindo-me de ser melhor para os meus alunos.
Agora sim, a caminho do final do ano lectivo, quando não for buscar a folhinha que completa o ciclo infernal, passarei definitivamente para o outro lado e assumo até ao final uma posição que já teve consequências na minha carreira e poderá ainda vir a ter mais. E esse gesto será o último de um ciclo de luta com esperança, que continua a ser a minha, e que tem guiado cada gesto meu no contributo modesto para salvar um pouco do que ainda resta dos destroços à nossa volta.
Os meus alunos e os pais deles estão sempre do meu lado porque sabem bem o quanto desta luta tem sido em seu nome. É a eles que devo a minha lealdade. São eles as sementes do futuro que urge proteger. Não me negam apoio, mesmo quando a escola se esquece de quem vive lá dentro e do que é importante.

Continuo a acreditar que é possível uma luz no próximo ano lectivo. Disse e fiz o possível nestes anos para estar do lado da solução. Durmo tranquila.
Agora aproxima-se também a oportunidade de ainda dizer/fazer mais coisas em cada uma das eleições que se aproximam. O meu voto está decidido e não passará nunca mais pelo partido que agiu sem inteligência, sem rigor e de forma hostil contra o bem mais precioso da Nação (a não ser que se perceba um dia uma convincente mudança de rumo e de gentes). Mas também não voltará a ser (cheques) em branco como os das últimas duas eleições, onde o meu desencanto com a política, depois de uma vida a votar PS, atingiu o pico máximo e na hora H não me permitiu escolher coisa alguma.

Mas, tal como já disse. É o meu voto, a minha decisão.
Não vou tentar sequer convencer ninguém.
A inteligência de cada um é como cada qual.
Tenho as minhas razões.

Dia 30 estou lá, porque assim decidi e por mais coisa nenhuma.

Da mão da Teresa

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