sexta-feira, 19 de junho de 2009

O PAVÂO

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O pavão é um animal esquisito. Parece sofrer de um equilíbrio instável quando parado, fica “empinado”, dobra o pescoço para trás e inclina ligeiramente a cabeça. A Natureza, que não foi lá muito pródiga a conceder-lhe inteligência, dotou-o, talvez para compensar, com farta e colorida plumagem.

Esta é usada para atrair as atenções e, uma vez isso conseguido, o pavão incha, tufa, arma a cauda em leque, gira sobre si próprio em passinhos ritmados, e por fim solta um grito agudo tão imbecil quanto o seu comportamento.

Normalmente, é-nos dado vê-lo a passear a sua arrogância apenas em espaços limitados a jardins e relvados de palácios e castelos, o que não quer dizer que não seja igualmente frequentador de outros locais.

Curiosamente, não é tão apaparicado quanto a sua ridícula vaidade desejaria. Na realidade a intuição animal é assaz apurada, levando a que os seus pares de mais comedidas penas e atitudes, progressivamente o confinem a lugares bem demarcados onde, aparentemente rei, dá largas à sua aberrante fantasia perante uma imaginária plateia. E se, por ventura sua, alguns incautos espectadores seguem as suas espampanantes evoluções, depressa o abandonam pois nada mais tem para oferecer.

Assim sendo, apesar do insistente apelo das suas plumagens caleidoscópicas, o pavão é um animal triste, votado ao isolamento ornamental.

O homem é um ser eminentemente social, e a sua capacidade de raciocínio permite-lhe não só partilhar do habitat da maioria dos animais, como deles tirar proveito.

Daí não ser de estranhar que, na comum caracterização de pessoas e grupos, frequentemente se recorra a expressões comparativas com o mundo animal.

Nesse sentido dizemos que fulano é uma águia, que determinado estudante é o urso da turma, que este é um touro, aquele é um grande rato, o outro um burro, aquela uma girafa, a outra uma grande lesma... por aí fora.

Na análise comportamental, são raros os animais que escapam ao apropriamento da sua identidade pelo ser humano.

O pavão de que falámos no início, evidentemente não foge à regra. Mais do que seria desejável, está longe de ser uma espécie em vias de extinção.

Apostamos dobrado contra singelo que, para o identificar com alguém...
não faltará quem.

Luís Silva Rosa

Nota (em quadra):

Pavão português...
Não falta não!!
Até temos um
Que é um "chefão"!!

1 comentário:

Bea disse...

Tão engraçado... um dos meu 1ºs post é mesmo este http://beatrizmadureira.blogspot.com/2008/07/paves.html
Sempre em sintonia com os que me merecem...bjs