quinta-feira, 23 de julho de 2009

CARTA AO FUTURO PRIMEIRO MINISTRO

Seja Vossa Excelência quem for o eleito dos candidatos que se apresentam a escrutínio, endereço-lhe desde já os meus parabéns por ter merecido a confiança da maioria dos eleitores votantes.

Quero igualmente desejar-lhe do fundo do coração muita saúde e sorte, pois vai Vossa Excelência precisar de ambas para sustentar a herança que todos nós lhe deixámos – este degradado País que hoje temos.

Embora não seja fotógrafo nem pintor, desejo ainda assim oferecer-lhe como presente deste significativo momento, o retrato feito com a possível lucidez de cidadão comum que procura estar atento ao que o rodeia – este País que hoje temos:

Começo, como é lógico, pelas crianças. Elas são obrigatoriamente inseridas no sistema logo à nascença, é-lhes atribuído um estatuto oficial de existência que em teoria lhes confere direitos de cidadania e não obrigações. Estas, em teoria, ficam para os adultos e para as Instituições por estes criadas. Como na prática se verifica no quotidiano o aviltamento da teoria, resultam toda a casta de abandonos e maus-tratos que, para além do desgosto de vermos as culpas morrerem solteiras em muitos dos casos noticiados, as crianças (sobre) vivem infelizes e infelizes permanecem como adultos, com o azedume próprio de quem é excluído.

Continuo pela educação e pelo ensino, pedras basilares da construção de um País saudável. Quer os Pais quer os Governantes não souberam ou quiseram pôr o acento tónico nestas prioridades, tendo-se assistido ao desmoronar da Família e da Escola, pretensamente amparado com medidas avulsas que, longe de atacar o cerne do problema, ampliam-no com a ilusória capa da rapidez da modernidade. A culpa na ausência de um estruturamento sustentado também neste domínio morre solteira.

Não querendo ser maçador, passando ao cidadão adulto, incluo ainda neste retrato a corrupção política, pública e privada, o mau funcionamento das Instituições quer deliberadamente quer por (maus) hábitos adquiridos, a falta de orgulho genuíno pelo que temos de bom – e ainda é muito – em Portugal e nos portugueses, a falta de consciência sobre o imperativo normal da produtividade, da solidariedade, da concertação social, do caminho para o desenvolvimento harmonioso e sustentado.

Sei da necessidade dos Governos tomarem decisões difíceis e impopulares, de solicitarem pacotes de sacrifícios para se ultrapassarem períodos menos bons, mas também sei que as pessoas de bem devem em simultâneo exigir a prática da equidade, não podendo haver dois pesos e duas medidas nem serem uns filhos e outros enteados.

Embora tenha apenas a sabedoria dada pelo somatório das vivências próprias e do acompanhamento das vidas deste mundo, sei ainda que os valores dos nossos egrégios avós são o esteio de uma sociedade que se quer livre, democrática e desenvolvida, não podendo por isso aceitar que deles se faça tábua rasa, com a desculpa esfarrapada de não nos perdermos em quimeras se queremos agarrar o futuro.

Para terminar esta carta que eventualmente Vossa Excelência não vai ter oportunidade de ler, renovo os meus votos iniciais para conseguir levar por diante a ciclópica tarefa a que meteu ombros, solicitando-lhe que, se algum interesse encontrou no presente que lhe dei, possa Vossa Excelência fazer tão bom uso da magistratura de influência do cargo que ocupa, como a vontade dos que lhe confiaram o seu voto. O País agradece.

Isto no caso de, obviamente, Vossa Excelência ser a pessoa certa para o cargo que por vontade expressa dos votantes vai ocupar.

Desejo-lhe as maiores felicidades, pois delas bem vai precisar.

Luís Silva Rosa

Nota: Acabei de ouvir a Grande Entrevista e lembrei-me desta carta!! Bem a propósito da época que se aproxima!! Os Lírios agradecem (mais uma vez) ao Luís.

3 comentários:

Anabela Magalhães disse...

Por aqui está tudo de férias?

TVstar disse...

Quaaaase Anabela.Estamos de...trabalhos de final de ano e....turmas e..etc...sempre muito que fazer. E por aí? Férias à vista?!
Beijocas.

Reverendo Bonifácio disse...

Olá lindas, férias só amanhã, estas últimas semanas têm sido ainda piores que o usual. Hoje ainda estou afogado em papelada ...