Topei aqui com um excerto que me levou aqui à leitura integral do texto, que seguidamente transcrevo. Porque, afinal, somos nós e o nosso sistema de valores que vamos a sufrágio.
Não ilustro com rotundas, que as havia e muitas. Mas quem diz rotundas, diz...
Rotundas ou escolas, a escolha é sua
Os nossos valores, prioridades e preferências. De todas as eleições em que participamos, é nas autárquicas que mais nos damos a conhecer como povo. Porque olhamos mais para a pessoa que para o partido, quando escolhemos a equipa autárquica revelamos, por exemplo, o lugar que ocupa a seriedade ou a obra feita, e o tipo de obras, na nossa hierarquia de valores.
O poder local, que o lugar comum diz que foi a "maior conquista da democracia", é, sem dúvida, a democracia no seu estado mais puro. Eleitor e eleito, mesmo nas grandes cidades, conhecem-se e interagem mais do que na relação com o poder central. O princípio de aproximação máxima de eleitor e eleito, numa tentativa de limitar a impureza da democracia representativa aproximando-a mais da directa, é indiscutivelmente aceite. A própria União Europeia o consagra nos seus tratados através do princípio da subsidiariedade.
É exactamente essa a eleição que vamos ter no domingo. Através dela, temos instrumentos para impor os nossos valores e preferências.
O que nos tem dito o País sobre esses valores?
O país do caos urbanístico, de autarcas corruptos, de rotundas ajardinadas num país mais seco que húmido, de escolas sem jardins e mal equipadas, de edifícios megalómanos, supostos centros culturais... Tudo isto é o reflexo daquilo de que gostamos mais.
Não vale a pena culparmos os políticos. Se em cada aproximação de um acto eleitoral autárquico nos oferecem mais uma rotunda com uma espécie de escultura, a razão está em nós. Se o autarca não olha a meios para mudar a face da autarquia, e com isso ainda aproveita para arrecadar um bom dinheiro para si e para a sua família, sem qualquer disfarce e à vista de todos, a razão está em nós. Se um autarca condenado pelos tribunais e conhecido pelos seus eleitores se mantém nas corridas eleitorais e sabe que poderá ganhar, a razão está apenas e unicamente na nossa hierarquia de valores.
Sim, é verdade que o quadro legal de financiamento das autarquias consagra incentivos perversos. É verdade que promove a construção desordenada e em quantidade, sem qualquer qualidade para quem lá vive. Mas também é verdade que não revelámos no passado qualquer preocupação com isso na altura em que vamos votar.
Os autarcas sabem que uma grande obra - de cimento ou betão - que encha bastante o olho, dá votos. Sabem que dizer que têm na sua autarquia a maior qualquer coisa da Europa ou do mundo - em geral, um centro comercial - lhes pode garantir a reeleição.
Os autarcas também sabem que melhorar a escola onde andam as nossas crianças, investir no tratamento dos lixos, manter pequenas estradas, até em terra batida, em vez de querer as violentas auto-estradas, dificilmente lhes trará a reeleição.
Há algum tempo que alguns protagonistas políticos nos dizem para olharmos para o que podemos fazer para melhorar o País em vez de passarmos a vida a dizer mal dos políticos.
É nas eleições autárquicas, muito mais do que nas legislativas, que temos mais poder para fazer de Portugal um país moderno. E não o Portugal das rotundas ajardinadas com escolas degradadas.
O poder local, que o lugar comum diz que foi a "maior conquista da democracia", é, sem dúvida, a democracia no seu estado mais puro. Eleitor e eleito, mesmo nas grandes cidades, conhecem-se e interagem mais do que na relação com o poder central. O princípio de aproximação máxima de eleitor e eleito, numa tentativa de limitar a impureza da democracia representativa aproximando-a mais da directa, é indiscutivelmente aceite. A própria União Europeia o consagra nos seus tratados através do princípio da subsidiariedade.
É exactamente essa a eleição que vamos ter no domingo. Através dela, temos instrumentos para impor os nossos valores e preferências.
O que nos tem dito o País sobre esses valores?
O país do caos urbanístico, de autarcas corruptos, de rotundas ajardinadas num país mais seco que húmido, de escolas sem jardins e mal equipadas, de edifícios megalómanos, supostos centros culturais... Tudo isto é o reflexo daquilo de que gostamos mais.
Não vale a pena culparmos os políticos. Se em cada aproximação de um acto eleitoral autárquico nos oferecem mais uma rotunda com uma espécie de escultura, a razão está em nós. Se o autarca não olha a meios para mudar a face da autarquia, e com isso ainda aproveita para arrecadar um bom dinheiro para si e para a sua família, sem qualquer disfarce e à vista de todos, a razão está em nós. Se um autarca condenado pelos tribunais e conhecido pelos seus eleitores se mantém nas corridas eleitorais e sabe que poderá ganhar, a razão está apenas e unicamente na nossa hierarquia de valores.
Sim, é verdade que o quadro legal de financiamento das autarquias consagra incentivos perversos. É verdade que promove a construção desordenada e em quantidade, sem qualquer qualidade para quem lá vive. Mas também é verdade que não revelámos no passado qualquer preocupação com isso na altura em que vamos votar.
Os autarcas sabem que uma grande obra - de cimento ou betão - que encha bastante o olho, dá votos. Sabem que dizer que têm na sua autarquia a maior qualquer coisa da Europa ou do mundo - em geral, um centro comercial - lhes pode garantir a reeleição.
Os autarcas também sabem que melhorar a escola onde andam as nossas crianças, investir no tratamento dos lixos, manter pequenas estradas, até em terra batida, em vez de querer as violentas auto-estradas, dificilmente lhes trará a reeleição.
Há algum tempo que alguns protagonistas políticos nos dizem para olharmos para o que podemos fazer para melhorar o País em vez de passarmos a vida a dizer mal dos políticos.
É nas eleições autárquicas, muito mais do que nas legislativas, que temos mais poder para fazer de Portugal um país moderno. E não o Portugal das rotundas ajardinadas com escolas degradadas.
Helena Garrido, Jornal de Negócios, 9 de Outubro de 2009
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