sábado, 31 de outubro de 2009

Saudades!!

Sinto saudades do tempo em que eu gostava de ir para a escola. Do tempo em que tirava as minhas dúvidas com as minhas colegas de grupo. Do tempo em que fazíamos materiais e os partilhávamos como se fosse uma fatia de um bolo que nos tinha saído bem. Do tempo do coração aberto e da mão estendida, pronta a receber de todos o que de todos viesse.
E, nesse tempo, era feliz.As conversas na sala de professores em cada intervalo, sobre o sério e o não sério, sobre os alunos e outras vezes não...
A nossa familia estava ali.

E quando se vai e se está feliz no trabalho, não há trabalho. Há prazer!

Hoje, subo as escadas daquela escola e sinto-me arrastada. Entro na sala de professores e vejo grupos - por idades, por titularidade ou por falta dela, por terem pedido avaliação, por não terem pedido avaliação, por estarem descontentes com a avaliação, por estarem a cochichar contra os avaliadores e toda a gente a perceber,ou, tristes grupos à espera do toque, para mais uma aula que não se sabe se vai ser dada ou não, dada a insolência e má-educação de alguma turmas. (Só devia ser pai/mãe quem soubesse dar educação!)

Depois das aulas são as actas ainda em atraso e, depois, as reuniões e depois mais actas e, logo a seguir o relatório das actividades.

Hoje, li num jornal(DN) a seguinte frase : "Dá-se mais importância ao parecer que se tem mérito do que aos que têm verdadeiro mérito".

Apeteceu-me encaixilhá-la de tão verdadeira.
Tiro umas fotocópias dum qualquer livro,emolduro-as numa folha A4 com linha dupla, a seguir faço um "powerpoint" com o sumário para os alunos copiarem e ligo e desligo o projector de video.
A minha aula foi o máximo!
Ah, esqueci-me de dizer que também levei um leitor de CDs e dancei para eles a Billy Jean do MJ.
Sou tão boa! Eles aprenderam tanto!

E os professores com mérito(?) chegam a casa felizes.

Vem-me então à memória canção do Sérgio Godinho, que eu acho ser do António Gedeão "

"Sobe, Luísa, Luísa, sobe,
sobe que sobe, sobe a calçada.

Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada
.................."

Carrascos e vítimas de si próprios!
E depois outra, do Miguel Torga:
" Recomeça...
Se puderes,
Sem angústia e sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro,
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar
E vendo,
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com a lucidez, te reconheças.

TORGA, Miguel

Trevo sem folhas

Nota: Este texto estava num comentário e achei bem "destapá-lo". É, com certeza, o que sente muita gente por essas escolas fora...eu incluída!!

2 comentários:

isabel granadeiro disse...

Boa noite
Caro colega assino e subscrevo na integra o seu estado de espírito... também gosto muito de dar aulas e de estar com os miúdos mas sinto cada vez mais a essência da educação relegada para segundo plano...espero ainda com fé que as coisas entrem no rumo certo
Cumprimentos

Raul Martins disse...

Muitas vezes aqueles que têm o verdadeiro mérito são como os andaimes que ajudam na construção mas que depois são esquecidos como diz Hélder Câmara:

"Quando assistires
à retirada dos andaimes contempla
- é claro –o edifício que surge.
Mas pede pelos andaimes,
pois é duro servir de suporte à construção,
ser necessário à obra
e na hora da festa
ser retirado como entulho."
.
O importante é que as pessoas que estão em "campo" (nas "Campos" deste país) saibam que nós estamos lá; que na hora da verdade não falhamos; que na hora da luta não viramos a cara.