sexta-feira, 1 de abril de 2011

Trilogia sobre um Modelo de Avaliação Doente

Acto Final, finalmente!

Agora a sério.
Faz amanhã uma semana que a dita foi revogada na AR.
Desde essa data que ando aqui a salvar rascunhos do último poste desta trilogia dedicada à sua morte (ainda não promulgada, nem...).
Pensei, várias vezes, em adiá-lo para o momento em que a notícia fosse definitiva.
Também pensei publicar apenas a frase da substância: Eu quero ser avaliada!

Porém parecia-me pouco. Parecia-me provocatório e não é essa a minha intenção.

Ao longo deste loooongo processo de resistência ao modelo de avaliação imposto pelos governos do PS, os professores foram/são alvo de descrédito, de calúnias, de ofensas, muitas vezes por quem fala sem saber do que fala, e outras, muitas outras, por quem sabe bem o que está a fazer.

As nossas vozes ou não foram ouvidas ou, pior, foram distorcidas. Por isso, me parecia que este era o tempo de (re)afirmar claramente os nossos propósitos, pelo menos os  meus.
Com a falta de tempo e as palavras desgastadas só me restou mesmo escrever, apagar, guardar e adiar.

Hoje encontrei aqui o que queria dizer, mas escrito por quem o faz bem melhor do que eu. Subscrevo cada palavra.



José Matias Alves

Desde há 3 anos que a avaliação do desempenho dos docentes tem estado sempre no centro da agenda e da turbulência educativa. Porque era impossível (como tive oportunidade de dizer e demonstrar), porque era burocrática e monstruosa (também por responsabilidade das próprias escolas), porque era um instrumento de persecução de autoridades que o não sabiam ser, porque minava os modos de ser professor, porque requeria um excessivo tempo (que era roubado ao essencial da profissão – ensinar-fazer aprender-avaliar – porque não tinha condições de realização por falta de conhecimentos e de preparação, porque o campo profissional estava minado por uma vasta desconfiança mútua.

Por razões de oportunidade (leia-se de oportunismo político), o PSD e toda a oposição parlamentar deliberou suspender a avaliação em curso. Há razões objetivas (e demonstráveis) que tornam evidente que este sistema de avaliação estava longe de concorrer para elevar as qualidades de ensino e das aprendizagens. Há evidências que permitem sustentar (de um geral e sem se poder generalizar) que os prejuízos estavam a ser maiores que os benefícios. E por isso, o discurso da indignação soa a uma manifesta falsidade.

Mas deve também dizer-se que esta suspensão se pode virar contra os professores. Porque se cria a ideia de que os professores, definitivamente, não querem ser avaliados. E são uma espécie de classe profissional pária. E isto pode ter muito nefastas consequências na imagem pública e, posteriormente, na ação política (cerceando e limitando ainda mais os direitos profissionais).

Por isso, temos de reivindicar uma avaliação com significado e sentido. Uma avaliação que aposte claramente na dimensão interna, formativa, colaborativa. Na construção de uma cultura profissional que se resgate da clausura, da solidão e do sofrimento profissional. Uma avaliação que esteja nas mãos dos professores. E que se distinga dos mecanismos de progressão na carreira (embora esteja necessariamente conectada). Mais do que celebrar o fim, temos de ousar um início. Antes que seja tarde demais.

* José Matias Alves é professor do Ensino Secundário, mestre em Administração Escolar pela Universidade do Minho, doutor em Educação pela Universidade Católica Portuguesa e professor convidado desta instituição.

4 comentários:

Reverendo Bonifácio disse...

Também quero. Mas uma avaliação que sirva para melhorarmos, aprendermos e evoluirmos não uma pessegada que só sirva para piorarmos, desaprendermos e involuirmos.

Adélia Rocha disse...

Não é à toa que eu sou o lírio negro! Acabei de vir do umbigo, e posso dizer que a coisa está preta, mesmo! Avaliação doente? Mas há quem lhe queira fazer a reanimação. Parece que os que andaram a escrever contra a ADD, estão agora pesarosas com a morte anunciada, António Barreto incluído! Mas esta gente não tem vergonha???? Dizem hoje uma coisa, amanhã outra?? Mas não se salva ninguém?? É tudo neste país uma corja de MENTIROSOS oportunistas, cataventos?? Andam a gozar connosco, com os "zecos"? Agora vou ser politicamente incrrecta. EU NÃO QUERO SER AVALIADA!!! Enquanto não compreender para que serve a avaliação, e o que se tem feito nesta matéria, não me tem elucidado, repito: não quero ser avaliada1 quero trabalhar como sempre trabalhei. Não sou "xalente" , mas venha o primeiro dizer-me que alguma vez me neguei a alguma coisa que a escola me tenha pedido, em termos de trabalho!!! Quantas vezes já saí da escola às 4 da manhã? e à 1, 2 da manhã? Faço o que posso e o que não posso. Que mais querem? não se aguenta!!

Anabela Magalhães disse...

Também quero ser avaliada por um modelo credível e não problemático... mas e cadê ele?

mimos disse...

Dra. Adélia,
Que pena que não haja tanta gente assim,corajosa, para reconhecer que não querem esta avaliação da treta!
O problema é que muitos dos ditos «xalentes» partem dessa premissa (ou silogismo, como queira): «eu sou «xalente»; há avaliação para determinar os «xalentes», logo vou pedir a avaliação para [porque não se vão a atrever a negar-me o «xalente»]me ser atribuído um «xalente»!
Mas isto alguma vez foi sério? Avaliação entre pares? Aulas previamente preparadas com o avaliador (resquício de estágios mal ultrapassados!), meio-passaporte-de-um-sucesso garantido? Então, onde acaba a artificialidade e começa a autenticidade?
EU TAMBÉM NÃO QUERO ESTA AVALIAÇÃO! Pronto!