O Inverno terminou em beleza e a Primavera apresentou-se com pujança.
Valha-nos isso para podermos ter pelo menos a ilusão de desanuviar, de aligeirar a carga, dada a pressão que ultimamente tem vindo a acentuar-se sobre as nossas bombardeadas cabeças.
Na realidade, e ao contrário da recente metereologia, neste mês de Março temos sido confrontados com uma chuva de notícias que desde a borrasca miudinha, passando por águas torrenciais até ao granizo do tamanho de ovos de avestruz, não faltou nada.
O cidadão comum, mal abre as televisões, as rádios e os jornais, tem sido (e continua a ser) confrontado em simultâneo com notícias nada animadoras relativas à malfadada crise e à (falta de) segurança. Se lhes juntarmos pedófilos e afins, desgraças passionais, incêndios a destempo e a famigerada (des) educação, o painel de notícias fica completo, ou talvez não, porque as lusas gentes têm a inusitada capacidade de aguentar sempre mais umas pinceladas extra, por mais negras que sejam.
Um País que se dá ao luxo de em plena crise ter um Estado que faz uma fuga para a frente em vez de enveredar por uma gestão cuidada das despesas públicas, por não aumentar impostos, por incentivar a economia privada e mobilizar os portugueses para uma luta conjunta, é um País sem rumo, por mais loas que apregoem os homens do leme.
Se não houver a capacidade de inverter rapidamente esta viagem para o abismo, se formos vivos teremos de enfrentar dentro de alguns (poucos) anos os dedos em riste dos nossos filhos e netos, acusadores reais da nossa inércia e do nosso afundanço.
No meio desta profusão noticiosa de descalabros em catadupa, distinguimos vozes de economistas e sociólogos avisados e avisadores, falando a contra ciclo na espinhosa esperança do milagre de serem levados em conta… num País de faz de conta.
Não vêm com boas notícias, mas dão um grito de alerta que, em nossa opinião, deverá ser levado muito a sério, um grito de angústia pelo seu País hipotecado e a caminho da falência a curto prazo (4 ou 5 anos), pronto a ser engolido por uma solução ibérica ou outra qualquer encontrada pelos mandantes detentores do crédito que nos negam.
Entretanto, olhando à nossa volta, apesar das notícias e avisos, da frenética política de seguidores e contras, Lisboa permanece fluindo, aparentemente alheia às tempestades que não venham da Mãe Natureza.
As pessoas parecem preocupadas apenas com as suas próprias vidas, e mesmo uma ambulância a forçar passagem pelos carros da avenida, tem o mesmo efeito que um bêbedo a tentar acertar com a chave na fechadura.
O cidadão foi anestesiado pela vida moderna. Busca na rotina do seu dia a dia o equilíbrio perdido pela caterva de (más) notícias que a todo o momento lhe despejam e o despojam.
Aqui, faz-se de conta que o braço da potência é igual ao braço da resistência porque na física é um equilíbrio. Mas se for na negociação é um impasse e se for na guerra… morrem muitos.
Já que possivelmente deixámos de acreditar que a união faz a força e mesmo acreditando, era preciso uma força “do caraças” para nos unirmos e cansados já nós estamos, resta-nos dizer em jeito de oração:
Senhores governantes, perdoem-nos pelo mal que nunca vos fizemos, sabemos que era nosso dever faze-lo, mas somos pecadores sem remissão, pela nossa ignorância, pelo nosso silêncio, pela nossa permissiva conivência.
Não foi certamente por acaso que as andorinhas se habituaram a procurar a nossa Primavera.
Luís Silva Rosa
(Março 2009)
Nota: O Luís é um amigo nosso e da nossa família. É uma pessoa com uma sensibilidade e uma perspicácia invejáveis. Tem uma forma de escrever lúcida, transparente, linear, pertinente e extremamente crítica.
NÃO É PROFESSOR, mas compreende a nossa luta como se o fosse.
Por tudo isto e por muito mais que ficará por dizer, publico aqui um dos seus textos.
Ele é o primeiro de muitos outros com que o autor nos presenteará.
Para o Luís e em nome dos Lírios um MUITO OBRIGADA e um abraço amigo!!
Valha-nos isso para podermos ter pelo menos a ilusão de desanuviar, de aligeirar a carga, dada a pressão que ultimamente tem vindo a acentuar-se sobre as nossas bombardeadas cabeças.
Na realidade, e ao contrário da recente metereologia, neste mês de Março temos sido confrontados com uma chuva de notícias que desde a borrasca miudinha, passando por águas torrenciais até ao granizo do tamanho de ovos de avestruz, não faltou nada.
O cidadão comum, mal abre as televisões, as rádios e os jornais, tem sido (e continua a ser) confrontado em simultâneo com notícias nada animadoras relativas à malfadada crise e à (falta de) segurança. Se lhes juntarmos pedófilos e afins, desgraças passionais, incêndios a destempo e a famigerada (des) educação, o painel de notícias fica completo, ou talvez não, porque as lusas gentes têm a inusitada capacidade de aguentar sempre mais umas pinceladas extra, por mais negras que sejam.
Um País que se dá ao luxo de em plena crise ter um Estado que faz uma fuga para a frente em vez de enveredar por uma gestão cuidada das despesas públicas, por não aumentar impostos, por incentivar a economia privada e mobilizar os portugueses para uma luta conjunta, é um País sem rumo, por mais loas que apregoem os homens do leme.
Se não houver a capacidade de inverter rapidamente esta viagem para o abismo, se formos vivos teremos de enfrentar dentro de alguns (poucos) anos os dedos em riste dos nossos filhos e netos, acusadores reais da nossa inércia e do nosso afundanço.
No meio desta profusão noticiosa de descalabros em catadupa, distinguimos vozes de economistas e sociólogos avisados e avisadores, falando a contra ciclo na espinhosa esperança do milagre de serem levados em conta… num País de faz de conta.
Não vêm com boas notícias, mas dão um grito de alerta que, em nossa opinião, deverá ser levado muito a sério, um grito de angústia pelo seu País hipotecado e a caminho da falência a curto prazo (4 ou 5 anos), pronto a ser engolido por uma solução ibérica ou outra qualquer encontrada pelos mandantes detentores do crédito que nos negam.
Entretanto, olhando à nossa volta, apesar das notícias e avisos, da frenética política de seguidores e contras, Lisboa permanece fluindo, aparentemente alheia às tempestades que não venham da Mãe Natureza.
As pessoas parecem preocupadas apenas com as suas próprias vidas, e mesmo uma ambulância a forçar passagem pelos carros da avenida, tem o mesmo efeito que um bêbedo a tentar acertar com a chave na fechadura.
O cidadão foi anestesiado pela vida moderna. Busca na rotina do seu dia a dia o equilíbrio perdido pela caterva de (más) notícias que a todo o momento lhe despejam e o despojam.
Aqui, faz-se de conta que o braço da potência é igual ao braço da resistência porque na física é um equilíbrio. Mas se for na negociação é um impasse e se for na guerra… morrem muitos.
Já que possivelmente deixámos de acreditar que a união faz a força e mesmo acreditando, era preciso uma força “do caraças” para nos unirmos e cansados já nós estamos, resta-nos dizer em jeito de oração:
Senhores governantes, perdoem-nos pelo mal que nunca vos fizemos, sabemos que era nosso dever faze-lo, mas somos pecadores sem remissão, pela nossa ignorância, pelo nosso silêncio, pela nossa permissiva conivência.
Não foi certamente por acaso que as andorinhas se habituaram a procurar a nossa Primavera.
Luís Silva Rosa
(Março 2009)
Nota: O Luís é um amigo nosso e da nossa família. É uma pessoa com uma sensibilidade e uma perspicácia invejáveis. Tem uma forma de escrever lúcida, transparente, linear, pertinente e extremamente crítica.
NÃO É PROFESSOR, mas compreende a nossa luta como se o fosse.
Por tudo isto e por muito mais que ficará por dizer, publico aqui um dos seus textos.
Ele é o primeiro de muitos outros com que o autor nos presenteará.
Para o Luís e em nome dos Lírios um MUITO OBRIGADA e um abraço amigo!!
4 comentários:
Venham mais cinco, ou vinte ou oitenta...textos do Luís.
Escrita escorreita, pensamento claro e a ponta de ironia que faz a diferença.
Para além de que alguns lírios nem chegaram a florescer... e outros murcharam à nascença!
Que excelente contributo, Star.
Beijocas
Obrigada Bugs. Também achei que era uma mais valia para o nosso jardim!!
Para o Luís ( porque ele vai vir "aqui") apresento-lhe a nossa Bugs: autora do nosso Blogue e nossa Mestra neste mundo da "Bloguice".
Abraço para os dois
Olá, todas as flores são bem-vindas, chamem-se elas Lírios ou Luís. Obrigado star por ir semeando textos do Luís e nem só, por aqui, sempre certeira na escolha.
Pois é Bugs, este chão não foi muito fértil... não sei se pelo "choque" não tecnológico, se pela inércia crónica, se pela preferência por outros canais, que também é um direito que têm.
Eu vou passando, muito vezes de patinhas de lã, mas apreciando todos os ratos, digo, posts que por cá deixais. Bem hajam
Oh Nosso Reverendo seja bem aparecido!! É sempre um prazer saber notícias suas!!!
Como vai essa asáfama de portofólios?
Vá aparecendo mais vezes. Como vê há por aqui sempre novidades!!
Beijinhos
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