São tempos preocupantes estes que passam pelas nossas ruas,
A indiferença ao sofrimento,
A indiferença à injustiça.
Esse olhar que perdeu o espanto perante a vileza, a corrupção.
A vontade crescente de se contentar com o que há
Porque não há alternativa dizem uns,
Porque se deviam dar por satisfeitos por terem pão dizem outros,
Porque a concorrência tornou rainha a estatística da produtividade, e a produtividade da estatística.
A estatística produtiva é improdutiva.
A improdutividade estatística é nada + um buraco negro no universo.
É a desculpa abjecta de se fazer tudo de qualquer forma e de dar forma ao vazio.
Forma sem conteúdo e todos sem futuro.
Futuro hipotecado pela ignorância insidiosa camuflada de sucesso estatístico.
Não quero mentes ignorantes adormecidas pelo fácil, pelo dado e arregaçado,
Não quero futuras legiões e gerações de Rendimentos Mínimos
que vão de subsídio em subsídio,
como alcoólatras de tasca em tasca.
Não quero o contentar-se com o contentamento.
Não, não quero pão e circo!!!
Fiquem com o circo,
Fiquem com o pão,
Nem quero a farinha.
Quero o trigo, a semente, a terra e o arado,
Porque não quero o hoje, não quero o amanhã,
Mas serão minhas todas as outras manhãs,
Essas manhãs em que já não haverá semeador para vos dar trigo,
Em que não haverá moleiro para vos moer farinha,
Porque já ninguém saberá pegar no arado,
Ninguém conhecerá o moinho.
E ninguém ensinará nada,
E todos serão um sucesso estatístico,
e todos terão hora marcada com o cangalheiro por terem morrido de fome.
terça-feira, 10 de março de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
4 comentários:
Uau! Reverendíssimo, reverencio-me!
Maravilha!!
É este sentimento,esta percepção do estado das coisas que invade a alma de muitos de nós.
Parabéns Reverendo!!
Belo poema, Reverendo Bonifácio. A propósito: pequei! Que tal confessar-me em directo para OS LÍRIOS? Estou cheia de angústias filosóficas!
O lírio negro da campos!
Confesse confesse Lírio negro, estou (estamos) aqui para ouvi-lo!
Enviar um comentário