terça-feira, 9 de junho de 2009

O (PRE)TEXTO

As eleições europeias foram um pretexto para este texto. Mais um a juntar a muitos que espontânea ou elaboradamente se sucederam após a primeira ida às urnas deste ano.
Assim como foram principalmente um pretexto para, democraticamente e no local certo, validar de forma indelével o profundo descontentamento que ao longo do tempo deste mandato, as pessoas de todos os quadrantes vinham a sentir e a manifestar.
Isto veio demonstrar o que há muito se sabe mas que há sempre quem deliberadamente ignore, desde que psicologicamente impreparado para o poder.
Por mais voltas que se dêem, o maior deficit é o da educação, pois a sua falta começa por se reflectir primeiro nos comportamentos de quem nos governa, depois na organização do trabalho com cada vez menos tempos livres (argumento principal dos pais que se demitem da educação dos filhos), ficando o ónus para a escola, que além de ensinar como é seu mister, ainda é o vazadouro das insuficiências educacionais a repor (?).
Quem possui uma maioria absoluta tem a obrigação acrescida de governar melhor que outros que a não tiveram. Tem as condições necessárias para o fazer e levar por diante o programa que mostrou e foi acreditado na votação.
Uma maioria absoluta não pode, quando chega ao poder, esquecer o que pediu aos eleitores, as promessas feitas e o respeito afirmado à população.
Uma maioria absoluta tem que possuir a humildade característica dos grandes, a capacidade de ouvir as forças vivas e os agentes motores dos diversos sectores da vida do País, de gerar estabilidade e confiança explicando o que faz, e assumindo o que circunstancialmente não pode fazer.
O poder, ou é encarado por quem o tem como um espírito de missão a cumprir para servir, ou então é a sua antítese e gera anticorpos que fatalmente acabarão por o destruir.
Fazer orelhas moucas às reivindicações fundamentadas, iludir as pessoas com o aproveitamento das suas necessidades, mostrar arrogância na intervenção pública, menorizar tudo o que não seja o aparelho governativo, são práticas não de maioria absoluta, mas de absolutismo, obviamente incompatíveis com um regime democrático de direito.
Em democracia, quaisquer que sejam os partidos políticos a assumir o poder, se governarem contra as pessoas, mais tarde ou mais cedo têm os dias contados.
É o que está a acontecer ao presente governo. Que sirva de vacina para os próximos, sejam eles quais forem.
As pessoas, independentemente da idade, andem ou não na escola, aprendem todos os dias. Ignorar esta evidência é toldar a própria visão.
As pessoas podem aceitar temporariamente o que não consideram ser justo, mas não são parvas e logo se encontram nos valores da cidadania.
Os valores da cidadania também têm que constar da cartilha dos governantes.

Luís Silva Rosa
(08/JUN/2009)

Nota: Mais um contributo muito pertinente que o nosso simpático colaborador e apoiante Luís Rosa nos enviou.
Obrigada e um abraço Luís.

5 comentários:

bugsnaEDucação disse...

Excelente reflexão, Luís.
Se me permite, trocava o também pelo sobretudo:
«Os valores da cidadania têm 'sobretudo' que constar da cartilha dos governantes.», porque o exemplo vem de cima.
Obrigada pelos seus contributos

Reverendo Bonifácio disse...

Obrigado, Luís.
Bugs, desculpe discordar mas o exemplo não pode vir de cima, porque "em cima" estão os nossos governantes e se seguissemos o seu exemplo... se Portugal está mal, ainda estaria pior... está a ver?

bugsnaEDucação disse...

Digníssimo Reverendo, não dão bons exemplos mas lá que deviam...deviam.

TVstar disse...

Pois!! Eu também acho que deviam!!

Reverendo Bonifácio disse...

O abismo entre o que deviam e o que fazem é tão grande que não sei se da berma do lado do que fazem conseguem sequer vislumbrar a berma do lado do que deviam...