ou, a mentira mudou de nome.
terça-feira, 30 de junho de 2009
segunda-feira, 29 de junho de 2009
ANGÚSTIAS
Procuro pelo meu País.
Somente encontrei a História
Que me sussurra e diz:
Das grandezas e misérias
De que esta terra se fez
Hoje vive-se de lérias
E o resto… é o que tu vês!
Luís Silva Rosa
Jun/2009
Nota: Mais uma "marca" do Luís. O País e os Lírios agradecem.
domingo, 28 de junho de 2009
As iludências aparudem
Valha-nos S. Pedro! que nos mandou este tempo fresquinho, tão pouco de Verão mas tão propício ao trabalho.
Submersos em papeladas não admira que, frequentemente, nem demos conta dos factos importantes que vão acontecendo, como estes de entre outros:
sábado, 27 de junho de 2009
Demolidor
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Agradecimentos à Anabela pela luz com que alumia o caminho.
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sexta-feira, 26 de junho de 2009
quinta-feira, 25 de junho de 2009
quarta-feira, 24 de junho de 2009
O CAMINHANTE
O sujeito ia estrada fora a caminho da Europa, no seu passo costumeiro, certo, determinado.
Quem o conhecia – gostasse ou não do seu andar – não precisava de o ver para adivinhar a sua presença. Ela manifestava-se pelo bater dos tacões em cada passo no asfalto, como que a dizer vou aqui, afastem-se, não me irritem, deixem-me passar.
Aliás, a sua voz era a imagem direita do seu andar. Falava com aquele tom a um tempo acutilante e irónico, por vezes agastado e irritadiço de quem tolera mal as contrariedades. Por isso batia os tacões no alcatrão.
O tempo foi passando e o sujeito lá continuava a sua caminhada, embora agora o caminho fosse mais íngreme, sinuoso e esburacado.
Nisto, à saída duma curva, eis que surge o que parecia ser um tapete de folhas a aveludar a estrada. Pensou: Hum, finalmente tive quem me endireitasse o piso, já era tempo, estou farto de buracos.
Só que não era. Assim que pisou as primeiras folhas, ao sentir a maciez sob os pés avançou com arrogância um punhado de metros e… caiu no buraco!
Não era um buraco imenso, mas era grande o suficiente para lá o fazer cair. Era um dos muitos com o tamanho da erosão provocada pelas intempéries que desvalorizou nos últimos anos, convencido da força da sua teimosia em vencer a ordem natural das coisas.
Habituado que estava a ultrapassar obstáculos, o caminhante não cuidou que estes iriam aumentar em diversidade e tamanho à medida que percorresse a estrada.
Ainda um pouco atordoado com o trambolhão, sacudiu-se, sentou-se na berma do caminho e pensou que, apesar do treino, afinal o resto da caminhada não iria ser a tarefa fácil que idealizara. Faltavam-lhe os recursos para renovar a estrada. Ainda por cima o tempo era curto para a quantidade necessária de remendos, quanto mais para um piso novo. Tinha que haver uma solução!
Alicerçado na sua proverbial teimosia, o caminhante, após ouvir as recomendações dos seus companheiros de caminho, fez-se de novo à estrada.
Desta vez, não fosse o Diabo tecê-las, o caminhante encomendou uma farpela de caminheiro, na esperança de obter o apoio das pessoas que o vissem no caminho. Acontece porém, que parecer não é bem o mesmo que ser.
O caminhante teve novo percalço ao ter que continuar a penosa marcha com o calçado que já trazia (apesar da farpela nova), dado não haver disponível sapato de caminheiro que lhe servisse.
E foi vê-lo, de meter dó, neste trilho de todo um Verão, vestido de caminheiro com calçado para o alcatrão.
Como ficará no fim do Verão, depois verão.
Uma coisa é certa: Os apoiantes (?), ou lhe dão a palma… ou a palmada.
Luís Silva Rosa
Jun/2009
Nota: Adorei este caminhante, não sei... faz-me lembrar alguém!!
Espectacular, Luís!! Obrigada!
terça-feira, 23 de junho de 2009
A Sociedade Domesticada
Sei que o texto é grande, mas leiam o último parágrafo! E atentem na palavra DOMESTICAÇÃO!!
«No seu mais recente livro, Em Busca da Identidade: O Desnorte, acabado de editar pela Relógio d'Água, José Gil procede de novo a uma análise das actuais condições de existência em Portugal. O ponto de partida é conhecido e já tinha sido diagnosticado por Eduardo Lourenço: trata‑se da hiperidentidade, que se poderia definir como a doença que consiste em sermos «portugueses antes de sermos homens» (p. 10). Para o autor, o grande problema que daqui decorre é o da construção de subjectividades marcadas por este desequilíbrio. Procedendo a uma transferência de conceitos e mecanismos psicanalíticos para o plano colectivo (em perfeita consciência do risco que isso comporta), José Gil encontra numa subjectividade característica durante o salazarismo os traços do que Sandor Ferenczi designou como introjecção. De uma forma algo simplificada, pode dizer‑se que esta consiste num processo de diluição de responsabilidades através de um ego inchado, omnipresente, que engoliu o mundo e permite, assim, que os seus afectos flutuem aí livremente. No caso português, «o sujeito ‘vive‑se’ como um zero social e pessoal, um falhado, e queixa‑se de tudo e de todos –– queixa‑se do ‘país’, nunca de si próprio» (p. 15). Se é certo que o fim do fascismo impôs a construção de novas subjectividades, não é menos exacto que a força dos padrões interiorizados não se desvanece de repente. Para o filósofo, decorre daí «a nossa dificuldade em nos desviarmos de uma via única, a nossa tendência a não ver senão a norma, a criar constantemente zonas claustrofóbicas, a viver a democracia como, paradoxalmente, uma imensa cobertura‑véu colectiva, desde os média ao tipo de governação, passando pelo medo da crítica e da liberdade» (p. 18). Podemos ver aqui o mecanismo que levou à concepção de um cartaz como aquele que o PS apresentou recentemente, afirmando que eles combatem a crise enquanto os outros combatem o PS. Subjacente a esta frase propagandística está a ideia do caminho único, da despolitização, segundo a qual há apenas uma boa solução e tudo o resto é uma perda de tempo. O objectivo é a recusa da argumentação, é a negação do confronto democrático, é a tentativa de intimidação através da exclusão: aqueles que não aceitam o que os senhores do cartaz propõem desinscrevem‑se do espaço público (como diria José Gil), porque a única possibilidade de inscrição consiste em aceitar o tal caminho único. Por isso, o líder do Partido Socialista pôde dizer, após a derrota nas eleições europeias, que não se vai desviar do rumo traçado, como outrora a ministra da educação já dissera que a manifestação de 120 000 professores em Lisboa (apenas a 20 000 da totalidade da classe profissional) não era relevante.
A esse propósito, aliás, José Gil escreveu que se tratava de uma fuga à contenda, através da qual «o poder torna a realidade ausente e pendura o adversário num limbo irreal». Ao deixar «intactos os meios da contestação mas fazendo desaparecer o seu alvo, desinscreve‑os do real». Trata‑se, portanto, de «uma não‑acção, uma acção não‑performativa», que pretende impor «a interiorização da obediência». É «um processo de domesticação da sociedade», o que representa mais do que meros traços psicóticos: na verdade, relativamente ao comportamento do primeiro‑ministro e da sua ministra da educação, deve falar‑se, como faz José Gil, da «não‑inscrição elevada ao estatuto sofisticado de uma técnica política» (pp. 55-56).»
segunda-feira, 22 de junho de 2009
RECORDAR: PROFESSORES NÃO PODEM ESQUECER
Santana Castilho
sábado, 20 de junho de 2009
Nem cegueira, nem surdez. Pura Manipulação!
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- Das reformas
Só quem esteve nas escolas sabe da avalanche de leis, de despachos e contra-despachos, de esclarecimentos e contra-esclarecimentos que este governo produziu.
Resta a dúvida: se não fosse a própria incompetência até onde teriam ido?
- Do ataque a certos sectores*
- Dos professores
Afinal era "tão complexo"!
Afinal era "tão burocrático"!
Afinal foi corrigido! Quê?? .... Corrigido???
Modelito exigente? Continua a acreditar na própria mentira!!!!!!!!
BANDEIRA DE LUTA DOS PROFESSORES!
- Dos sindicatos
- Das manifestações:
Mudou de tom arrogante para falsamente cordato.
O blá blá é o mesmo!
OK! Estamos conversados!
sexta-feira, 19 de junho de 2009
DESCUBRA AS DIFERENÇAS!!
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HÁ DOIS MESES:
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Serão 7?...Serão 7x7?... Serão 77?..... ou não será nenhuma?!
Descubra você mesmo...!!!
BUÁÁÁ... SNIFF...SNIFF...
Estou como o Miguel do outrÓÒlhar: cada vez que o oiço choro!
O tom pungente do primeiro-ministro
Bem, o que importa mesmo é que a faceta comunicacional do primeiro-ministro está cada vez mais interessante. Agora comovo-me sempre que o ouço falar. Até as lágrimas me correm pela face, como se me deixasse metamorfosear por um Paulo Portas incontido em noite de resultados eleitorais. E se me desfaço em lágrimas com o tom pungente do homem, o que será dos militantes fanáticos? Deve ser uma enxurrada de baba e ranho, digo eu.
Isto serve para dizer que devo ter perdido a memória. Talvez seja mesmo essa a ideia do primeiro-ministro quando representa o papel de noiv@ arrependid@: que eu e os milhares de docentes vivamos da memória de curto prazo. Que o efémero televisivo promova a amnésia colectiva tão indispensável para a reabilitação deste PS até às próximas eleições. Para depois regressar o durão*… quantos são, quantos são?…
*No dizer do próprio: como um animal feroz!.
O PAVÂO
Esta é usada para atrair as atenções e, uma vez isso conseguido, o pavão incha, tufa, arma a cauda em leque, gira sobre si próprio em passinhos ritmados, e por fim solta um grito agudo tão imbecil quanto o seu comportamento.
Normalmente, é-nos dado vê-lo a passear a sua arrogância apenas em espaços limitados a jardins e relvados de palácios e castelos, o que não quer dizer que não seja igualmente frequentador de outros locais.
Curiosamente, não é tão apaparicado quanto a sua ridícula vaidade desejaria. Na realidade a intuição animal é assaz apurada, levando a que os seus pares de mais comedidas penas e atitudes, progressivamente o confinem a lugares bem demarcados onde, aparentemente rei, dá largas à sua aberrante fantasia perante uma imaginária plateia. E se, por ventura sua, alguns incautos espectadores seguem as suas espampanantes evoluções, depressa o abandonam pois nada mais tem para oferecer.
Assim sendo, apesar do insistente apelo das suas plumagens caleidoscópicas, o pavão é um animal triste, votado ao isolamento ornamental.
O homem é um ser eminentemente social, e a sua capacidade de raciocínio permite-lhe não só partilhar do habitat da maioria dos animais, como deles tirar proveito.
Daí não ser de estranhar que, na comum caracterização de pessoas e grupos, frequentemente se recorra a expressões comparativas com o mundo animal.
Nesse sentido dizemos que fulano é uma águia, que determinado estudante é o urso da turma, que este é um touro, aquele é um grande rato, o outro um burro, aquela uma girafa, a outra uma grande lesma... por aí fora.
Na análise comportamental, são raros os animais que escapam ao apropriamento da sua identidade pelo ser humano.
O pavão de que falámos no início, evidentemente não foge à regra. Mais do que seria desejável, está longe de ser uma espécie em vias de extinção.
Apostamos dobrado contra singelo que, para o identificar com alguém...
não faltará quem.
Luís Silva Rosa
Nota (em quadra):
Pavão português...
Não falta não!!
Até temos um
Que é um "chefão"!!
quinta-feira, 18 de junho de 2009
É de cair o queixo!
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Carinhos blogosféricos
Comecemos, pois, por agradecer porque as nomeações têm que ficar, ainda, para mais tarde.
Este selo " foi criado a pensar nos blogs que demonstram talento, seja nas artes, nas letras, nas ciências, na poesia ou em qualquer outra área e que, com isso, enriquecem a blogosfera e a vida dos seus leitores." Quanta honra para este humilde e bravio jardim!
Lemniscato: ornado de fitas do grego Lemniskos, do latim, Lemniscu: fita que pendia das coroas de louro destinadas aos vencedores(In Dicionário da Língua Portuguesa, Porto Editora).
Acrescento que o símbolo do infinito é um 8 deitado, em tudo semelhante a esta fita, que não tem interior nem exterior, tal como no anel de Möbius, que se percorre infinitamente.
Hoje, a Isabel Preto, comentadora recente cá da casa e dona do Histórias con(m)Vida, deixou-nos os parabéns e este miminho:
Para todas vai um grande abraço mais o nosso beirão BEM-HAJA pela vossa companhia !
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AOS SENHORES DO MUNDO
AOS SENHORES DO MUNDO
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Ó falsos arautos do mundo novo
Vendedores de ilusões de peito cheio
Tendes o poder manipulando o povo
Desdenhando que o belo fique feio
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Donos do que sabeis a todos os níveis
Mandantes das guerras sem glória
Pelo pior vos tornastes críveis
E assim haveis de ficar na História
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Não importa a dor... que não é vossa
Não importa mentir... sois mestres na arte
Vós comeis tudo o que a mente possa
Chacais do mundo, nada há que vos farte
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Mas por mais que porfieis
Manter o controlo das "formigas"
Cuidai que vivemos na mesma conjuntura:
Fingindo aceitar todas as "migas"
Aprendemos tudo o que sabeis
E assistiremos à vossa sepultura!
Apesar de ter "escrevinhado" este poema (?) há alguns anos, continuo a pensar do mesmo modo, a menos que fique como o "pai" da democracia!
Luís Silva Rosa 16 de Junho de 2009 20:55
Nota: O Luís deixou este lindíssimo poema "escondido" num comentário ao post "MALHAS QUE A RAZÃO TECE - II".
Por razões óbvias ele não podia ficar escondido, porque é um grito de alma, porque se identifica connosco, porque traduz uma sensibilidade ímpar e porque deve ser lido e declamado por todos... aqui fica bem à vista.
E mais uma vez, porque nunca é demais...MUITO OBRIGADA LUÍS!!
(Quando o Luís escreve...o nosso jardim floresce!)
O DIABO VESTE PRADA
Nem queria acreditar, quando, ontem, ouvi certas declarações de Vitalino Canas e de Ana Gomes: "o Partido Socialista vai tentar mudar de estilo, sem mudar de rumo"; "o PS tem de ser mais dialogante, ouvir mais as pessoas". Enfim! Troquemos isto por miúdos.
Ainda com o peso dos tais “resultados eleitorais decepcionantes”, e com o descalabro à vista, a “nomenklatura” do partido está, desesperadamente, a tentar mudar de visual, tornar a imagem do partido mais simpática aos olhos do eleitorado. É agora muito frequente o uso da palavra “humildade” e de todo o seu parentesco. O aparelho do partido quer mudar a forma — captatio benevolentiae— e, com o seu novo brilho, ofuscar os cidadãos, para não verem o conteúdo, o mesmíssimo conteúdo, ou seja, o PS vai pôr muito pó-de-rosa na face sisuda e descarada. Esta gente não aprende nada? Esta gente continua a menosprezar a inteligência do povo?Pago para ver certos rostos, depois deste peeling político de emergência! Como ficará José Sócrates? Vai parecer-se mais com Guterres? Será que Maria de Lurdes Rodrigues vai ficar parecida com a Madre Teresa? E Valter Lemos, vai parecer menos eduquês? Ficará o Pedreira mais macieira? Resposta: VÃO FICAR “DIARROGANTES”
Luís Costa (Fonte: DardoMeu)
http://odardomeu.blogspot.com/
Nota: Não podia deixar de postar este texto. Para prevenir os "desprevenidos"ou os ingénuos...do que aí vem!!
(E)VIDÊNCIAS
Valter Lemos disse: «Os exames vão correr bem.»
O que lhe dará tanta certeza?
OLHó RELATÓRIO DA OCDE...
As conclusões são de um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) baseado num inquérito realizado em 23 países.
Os docentes lusos são os que mais tempo perdem a manter a ordem nas aulas ou em tarefas administrativas.
Ler mais aqui. Comentários aqui e aqui. Original acolá.
Comentário do INOMINÁVEL:
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Atão num se tava memo a ver???
Tal e cuecas!!!
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terça-feira, 16 de junho de 2009
O Maior Fracasso da Democracia Portuguesa
Novopress.info Portugal - http://pt.novopress.info
Eis parte do enigma. Mário Soares, num dos momentos de lucidez que ainda vai tendo, veio chamar a atenção do Governo, na última semana, para a voz da rua.
A lucidez, uma das suas maiores qualidades durante uma longa carreira politica.
A lucidez que lhe permitiu escapar à PIDE e passar um bom par de anos, num exílio dourado, em hotéis de luxo de Paris.
A lucidez que lhe permitiu conduzir da forma “brilhante” que se viu o processo de descolonização.
A lucidez que lhe permitiu conseguir que os Estados Unidos financiassem o PS durante os primeiros anos da Democracia.
A lucidez que o fez meter o socialismo na gaveta durante a sua experiència governativa.A lucidez que lhe permitiu tratar da forma despudorada amigos como Jaime Serra, Salgado Zenha, Manuel Alegre e tantos outros.
A lucidez que lhe permitiu governar sem ler os “dossiers”.
A lucidez que lhe permitiu não voltar a ser primeiro-ministro depois de tão fantástico desempenho no cargo.
A lucidez que lhe permitiu pôr-se a jeito para ser agredido na Marinha Grande e, dessa forma, vitimizar-se aos olhos da opinião pública e vencer as eleições presidenciais.
A lucidez que lhe permitiu, após a vitória nessas eleições, fundar um grupo empresarial, a Emaudio, com “testas de ferro” no comando e um conjunto de negócios obscuros que envolveram grandes magnatas internacionais.
A lucidez que lhe permitiu utilizar a Emaudio para financiar a sua segunda campanha presidencial.
A lucidez que lhe permitiu nomear para Governador de Macau Carlos Melancia, um dos homens da Emaudio.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume ao caso Emaudio e ao caso Aeroporto de Macau e, ao mesmo tempo, dar os primeiros passos para uma Fundação na sua fase pós-presidencial.
A lucidez que lhe permitiu ler o livro de Rui Mateus, “Contos Proibidos”, que contava tudo sobre a Emaudio, e ter a sorte de esse mesmo livro, depoisde esgotado, jamais voltar a ser publicado.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume as “ligações perigosas” com Angola, ligações essas que quase lhe roubaram o filho no célebre acidente de avião na Jamba (avião esse carregado de diamantes, no dizer do Ministro da Comunicação Social de Angola).
A lucidez que lhe permitiu, durante a sua passagem por Belém, visitar 57 países (”record” absoluto para a Espanha - 24 vezes - e França - 21), num total equivalente a 22 voltas ao mundo (mais de 992 mil quilómetros).
A lucidez que lhe permitiu visitar as Seychelles, esse território de grande importância estratégica para Portugal.
A lucidez que lhe permitiu, no final destas viagens, levar para a Casa-Museu João Soares uma grande parte dos valiosos presentes oferecidos oficialmente ao Presidente da Republica Portuguesa.
A lucidez que lhe permitiu guardar esses presentes numa caixa-forte blindada daquela Casa, em vez de os guardar no Museu da Presidência da Republica.
A lucidez que lhe permite, ainda hoje, ter 24 horas por dia de vigilância paga pelo Estado nas suas casas de Nafarros, Vau e Campo Grande.A lucidez que lhe permitiu, abandonada a Presidência da Republica, constituir a Fundação Mário Soares. Uma fundação de Direito privado, que, vivendo à custa de subsídios do Estado, tem apenas como única função visível ser depósito de documentos valiosos de Mário Soares. Os mesmos que, se são valiosos, deviam estar na Torre do Tombo.
A lucidez que lhe permitiu construir o edifício-sede da Fundação violando o PDM de Lisboa, segundo um relatório do IGAT, que decretou a nulidade dalicença de obras.
A lucidez que lhe permitiu conseguir que o processo das velhas construções que ali existiam e que se encontrava no Arquivo Municipal fosse requisitado pelo filho e que acabasse por desaparecer convenientemente num incêndio dos Paços do Concelho.
A lucidez que lhe permitiu receber do Estado, ao longo dos últimos anos, donativos e subsídios superiores a um milhão de contos.
A lucidez que lhe permitiu receber, entre os vários subsídios, um de quinhentos mil contos, do Governo Guterres, para a criação de um auditório, uma biblioteca e um arquivo num edifico cedido pela Câmara de Lisboa.
A lucidez que lhe permitiu receber, entre 1995 e 2005, uma subvenção anual da Câmara Municipal de Lisboa, na qual o seu filho era Vereador e Presidente.A lucidez que lhe permitiu que o Estado lhe arrendasse e lhe pagasse um gabinete, a que tinha direito como ex-presidente da República, na… Fundação Mário Soares.
A lucidez que lhe permite que, ainda hoje, a Fundação Mário Soares receba quase 4 mil euros mensais da Câmara Municipal de Leiria.
A lucidez que lhe permitiu fazer obras no Colégio Moderno, propriedade da família, sem licença municipal, numa altura em que o Presidente era… João Soares.
A lucidez que lhe permitiu silenciar, através de pressões sobre o director do “Público”, José Manuel Fernandes, a investigação jornalística que José António Cerejo começara a publicar sobre o tema.A lucidez que lhe permitiu candidatar-se a Presidente do Parlamento Europeu e chamar dona de casa, durante a campanha, à vencedora Nicole Fontaine.A lucidez que lhe permitiu considerar Jose Sócrates “o pior do guterrismo” e ignorar hoje em dia tal frase como se nada fosse.A lucidez que lhe permitiu passar por cima de um amigo, Manuel Alegre, para concorrer às eleições presidenciais uma última vez.
A lucidez que lhe permitiu, então, fazer mais um frete ao Partido Socialista.
A lucidez que lhe permitiu ler os artigos “O Polvo” de Joaquim Vieira na “Grande Reportagem”, baseados no livro de Rui Mateus, e assistir, logo aseguir, ao despedimento do jornalista e ao fim da revista.
A lucidez que lhe permitiu passar incólume depois de apelar ao voto no filho, em pleno dia de eleições, nas últimas Autárquicas.No final de uma vida de lucidez, o que resta a Mário Soares? Resta um punhado de momentos em que a lucidez vem e vai. Vem e vai. Vem e vai. Vai… e não volta mais.
Nota: Pois é!! E nós que até tinhamos alguma consideração por ele!! Pelo menos a nossa vivência democrática ensinava-nos que ele era o "pai da Democracia Portuguesa"!!
Infeliz utilização da palavra Pai!!
A mentira colectiva
Ele retrata bem uma das angústias do quotidiano do professor vigilante, que a opinião pública em geral julga em férias. Ao mesmo tempo, desmascara a hipocrisia de certos procedimentos burrocráticos de que os Senhores Ministros da Educação e seus inferiores hierárquicos nunca falaram, muito menos alteraram. Entre outras coisas!
Divirtam-se se puderem!
Continue a imaginar. O despertador avariou durante a noite. Ou fica preso no elevador. Ou o seu filho, já à porta do infantário, vomitou o quente, pastoso, húmido e fétido pequeno-almoço em cima da sua imaculada camisa.
Teve, portanto, de faltar à vigilância. Tem falta.
Ora esta coisa de um professor ficar com faltas injustificadas é complicada, por isso convém justificá-la. A questão agora é: como justificá-la?
Passemos então à parte divertida. A única justificação para o facto de ficar preso no elevador, do despertador avariar ou de não poder ir para uma sala do exame com a camisa vomitada, ababalhada e malcheirosa, é um atestado médico.
Qualquer pessoa com um pouco de bom senso percebe que quem precisa aqui do atestado médico será o despertador ou o elevador. Mas não. Só uma doença poderá justificar sua ausência na sala do exame. Vai ao médico. E, a partir deste momento, a situação deixa de ser divertida para passar a ser hilariante.
Chega-se ao médico com o ar mais saudável deste mundo. Enfim, com o sorriso de Jorge Gabriel misturado com o ar rosado do Gabriel Alves e a felicidade do padre Melícias. A partir deste momento mágico, gera-se um fenómeno que só pode ser explicado através de noções básicas da psicopatologia da vida quotidiana. Os mesmos que explicam uma hipnose colectiva em Felgueiras, o holocausto nazi ou o sucesso da TVI.
O professor sabe que não está doente. O médico sabe que ele não está doente. O presidente do executivo sabe que ele não está doente. O director regional sabe que ele não está doente. O Ministério da Educação sabe que ele não está doente.
O próprio legislador, que manda a um professor que fica preso no elevador apresentar um atestado médico, também sabe que o professor não está doente.
Ora, num país em que isto acontece, para além do despertador que não toca, do elevador parado e da camisa vomitada, é o próprio país que está doente.
Um país assim, onde a mentira é legislada, só pode mesmo ser um país doente.
Vamos lá ver, a mentira em si não é patológica. Até pode ser racional, útil e eficaz em certas ocasiões. O que já será patológico é o desejo que temos de sermos enganados ou a capacidade para fingirmos que a mentira é verdade.
Lá nesse aspecto somos um bom exemplo do que dizia Goebbels: uma mentira várias vezes repetida transforma-se numa verdade. Já Aristóteles percebia uma coisa muito engraçada: quando vamos ao teatro, vamos com o desejo e uma predisposição para sermos enganados. Mas isso é normal. Sabemos bem, depois de termos chorado baba e ranho a ver o 'ET', que este é um boneco e que temos de poupar a baba e o ranho para outras ocasiões. O problema é que em Portugal a ficção se confunde com a realidade. Portugal é ele próprio uma produção fictícia, provavelmente mesmo desde D.Afonso Henriques, que Deus me perdoe.
A começar pela política. Os nossos políticos são descaradamente mentirosos. Só que ninguém leva a mal porque já estamos habituados. Aliás, em Portugal é-se penalizado por falar verdade, mesmo que seja por boas razões, o que significa que em Portugal não há boas razões para falar verdade. Se eu, num ambiente formal, disser a uma pessoa que tem uma nódoa na camisa, ela irá levar a mal.
Fica ofendida se eu digo isso é para a ajudar, para que possa disfarçar a nódoa e não fazer má figura. Mas ela fica zangada comigo só porque eu vi a nódoa, sabe que eu sei que tem a nódoa e porque assumi perante ela que sei que tem a nódoa e que sei que ela sabe que eu sei.
Nós, portugueses, adoramos viver enganados, iludidos e achamos normal que assim seja. Por exemplo, lemos revistas sociais e ficamos derretidos (não falo do cérebro, mas de um plano emocional) ao vermos casais felicíssimos e com vidas de sonho.
Pronto, sabemos que aquilo é tudo mentira, que muitos deles divorciam-se ao fim de três meses e que outros vivem um alcoolismo disfarçado. Mas adoramos fingir que aquilo é tudo verdade.
Somos pobres, mas vivemos como os alemães e os franceses. Somos ignorantes e culturalmente miseráveis, mas somos doutores e engenheiros. Fazemos malabarismos e contorcionismos financeiros, mas vamos passar férias a Fortaleza. Fazemos estádios caríssimos para dois ou três jogos em 15 dias, temos auto-estradas modernas e europeias, mas para ver passar, a seu lado, entulho, lixo, mato por limpar, eucaliptos, floresta queimada, barracões com chapas de zinco, casas horríveis e fábricas desactivadas.
Portugal mente compulsivamente. Mente perante si próprio e mente perante o mundo.
Claro que não é um professor que falta à vigilância de um exame por ficar preso no elevador que precisa de um atestado médico. É Portugal que precisa, antes que comece a vomitar sobre si próprio.
in "O Torrejano".
segunda-feira, 15 de junho de 2009
MALHAS QUE A RAZÃO TECE - II
É um facto que a resistência dos professores à política de educação deste governo, sem siso e sem seriedade, tem sido um caminho longo, pedregoso e quase sempre à beira do abismo. Os passos foram sendo dados frequentemente sem rede, simultaneamente expostos à critica da opinião pública e ao anunciado revanchismo da cadeia hierárquica.
Soubemos resistir e persistir, uns mais que outros, muitos mais do que a tutela apregoa, fazendo orelhas moucas à propaganda que nos apoucava, escorados na razão que sabíamos do nosso lado.
Há quem se pergunte o que realmente nos move: se é uma teimosia idêntica à de quem nos governa; se são interesses político-partidários; se é o alegado corporativismo; se é pelo dinheiro e pela perda de regalias, se... se.... e se...
Não posso falar pelos outros. A mim o que move é o combate à farsa em que está a transformar-se o ensino público, é o desejo de uma escola melhor para o meu filho (que me perdoem a ordem mas é legítimo cada um queixar-se do que mais lhe dói), para o meus alunos, para mim.
O caminho faz-se caminhando e nestes dois últimos e esgotadores anos, algumas vezes nos vimos em becos aparentemente sem saída, aparentemente desunidos, mesmo à beirinha do tal precipício, onde os velhos do Restelo vaticinavam a queda.
Estamos novamente num desses momentos: o da entrega da ficha de auto-avaliação.
Guardo como recordação preciosa da mais extraordinária professora que tive, uma cópia clandestina, manuscrita em papel bíblia, do poema Rosas Vermelhas de Manuel Alegre, que ela me deu a ler aí por volta dos meus 15 anos. Dessa leitura há uma frase que ultimamente não me sai da cabeça: é a altura de saber se as traves mestras dum homem resistirão.
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Assim como também me persegue aquela outra fala de Sousa Falcão, quase no final do «Felizmente há luar!»: Há homens que obrigam todos os outros homens a reverem-se por dentro.
Auto (-) avaliação em série
FICHA PREENCHIDA (PARA COPY-PASTE) – AUTO AVALIAÇÃO
Categoria - Titular do seu nariz
Departamento Curricular - Língua Portuguesa e Literaturas
1. Como avalia o cumprimento do serviço lectivo e dos seus objectivos individuais estabelecidos neste âmbito?
Avalio com um EXCELENTE. Cá vou vindo todos os dias, como faço há quatro décadas… com a pasta recheada de manuais, livros, dicionários, prontuários, gramáticas, fichas, cadernos, lápis e canetas, uma pen de 4 GB e caneta felpuda para o quadro branco que há nos contentores. Trago a lancheira, uns maços de tabaco, PROZAC e, às vezes, o PC portátil. E trago uns óculos para ver perto (para longe não uso, apesar das cataratas, sou vaidosa…), trago sempre a cabeça entre as orelhas, mãos, braços, pernas e tudo o mais que me faz falta neste domínio. Excelente.
2. Como avalia o seu trabalho no âmbito da preparação e organização das actividades lectivas? Identifique sumariamente os recursos e instrumentos utilizados e os respectivos objectivos.
Avalio com um excelente. Utilizo todos os recursos supracitados com grande mestria, inclusive as TIC, PPS, PPT, PDFs, Scribd, Word, Excel, Moodle, blogues, data-show, Dvds, Cds de todos os tamanhos e Bics de todas as cores. Só me falta usar mais o quadro interactivo e comprar um Migalhões para guardar o lanche que trago de casa, pois ainda não sou de ferro e na minha idade preciso alimentar-me de forma mais saudável do que engolir cafés em todos os intervalos.
3. Como avalia a concretização das actividades lectivas e o cumprimento dos objectivos de aprendizagem dos seus alunos? Identifique as principais dificuldades e as estratégias que usou para as superar.
As actividades lectivas concretizam-se de modo excelente. Entramos e saímos vivos e contentes, apesar da falta de espaço, das obras, da poeira, das salas de aula em contentores, da falta de ar circulante, do amianto em cima das cabeças. E segue o baile. Dos objectivos de aprendizagem dos meus alunos, pois eles que falem! Às vezes doem-me as "cruzes" pois já me custa carregar com a tralha toda já referida, mas os alunos, por enquanto, vão ajudando. Excelente.
4. Como avalia a relação pedagógica que estabeleceu com os seus alunos e o conhecimento que tem de cada um deles?
Excelente. Apesar de me terem trocado as voltas, de me terem tirado turmas e alunos de continuidade e de me terem dado sessenta e dois novos (ôps… será que foi uma homenagem à minha idade?), para lá dos que já tinha, conhecemo-nos excelentemente. E, quanto à nossa relação, os meus alunos riem-se, muito mais do que choram, à minha beira. E estou certa de que aprendem comigo - ainda há dias, no intervalo, a fumar fora de portas os meus cigarros, uma aluna de doze anos correu para o meu lado e puxou ela também de um cigarro para me acompanhar no gesto. Até esta aprendizagem definida pela ASAE é integralmente cumprida.
5. Como avalia o apoio que prestou à aprendizagem dos seus alunos?
Excelente, também. E vou tendo sempre clientes nas aulas de reforço, apoio, substituições, salas de estudo... até no jardim em frente à escola a avaliar com os alunos os galhos das árvores que podem aguentar que se trepe, apoiando-os no exercício, ou a tentar apoiar e compreender a linguagem utilizada pelos jovens casais de alunos, sob as mesmas árvores, a exercitar experiências de natureza físico-química aprendidas nas aulas práticas …
6. Como avalia o trabalho que realizou no âmbito da avaliação das aprendizagens dos alunos? Identifique sumariamente os instrumentos que utilizou para essa avaliação e os respectivos objectivos.
Excelente. Estou sempre de olho neles e de ouvido alerta, memória de elefante e caderno mágico para anotações. Consegui preencher todas as grelhas das turmas do ensino regular e recorrente, conforme a legislação específica que muda a cada semana e que já tenho decorada, preenchi cuidadosamente o PIAV das oito turmas com todas as cruzes e percentagens, os cronogramas e as configurações da avaliação de todas as turmas, produzi planificações, relatórios disto e daquilo, consegui fazer todos os diagnósticos, reflexões e análises do APA, dos NEE, dos AOPES, do PEE, do PAA, de todos os PCP (planos curriculares de turma), do PQP (isto não sei bem o que é, mas preenchi…) conforme descrito nas actas de todos os Conselhos de Turma e reuniões de Departamento, Grupos, Minigrupos, etc. E, mais difícil ainda, consegui distribuí-los por níveis, só quatros e cincos no básico, assim como nas turmas do secundário, dezoitos e dezanoves pois o vinte é pra mim, que o mereço por ter contribuído com eficácia para as estatísticas ministeriais referentes ao sucesso educativo. Excelente.
7. Identifique a evolução dos resultados escolares dos seus alunos. Avalie o seu contributo para a sua melhoria e o cumprimento dos objectivos individuais estabelecidos neste âmbito.
Excelente. Este ponto descreverei detalhadamente apenas no final do ano, mas atendendo a que esta escola não costuma ficar bem colocada nos rankings, posso contribuir para essa melhoria e ir dizendo antecipadamente, com alguma alegria, que a maior parte dos alunos do 11º e 12º anos já consegue ler, e quase todos já escrevem frases utilizando a letra maiúscula no início, apesar das enormes dificuldades com a pontuação e a troca dos B pelo V e bice-bersa.
Apesar de nunca lerem as obras obrigatórias, é notável a ampliação vocabular que revelam devido aos hábitos de aprendizagem adquiridos através dos “Morangos com Açúcar”, obra-prima que pode servir como exemplo de prática inovadora e motivadora, ao invés da leitura de “Os Lusíadas” ou do “Memorial do Convento”, obras impostas pelo M.E. e que são a verdadeira causa dos maus resultados desta escola nos exames. Caso esse factor seja objecto de alteração pelo M.E., posso afirmar desde já que os resultados serão excelentes, assim como eu. Excelente.
domingo, 14 de junho de 2009
MALHAS QUE A RAZÃO TECE
Ontem também foi dia de outro António, por sinal também Fernando, a quem pedi um verso emprestado para transformar e utilizar no título desta entrada.
Pois a propósito desta declaração de uma intenção tomada em consciência e coerência
QUINTO / NEVOEIROMensagem
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer —
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Fernando Pessoa
EFEMÉRIDE À PORTUGUESA
tu não vês como está a escola?
Já nem mesmo um milagrinho!
Nem mesmo com a tua cola!
Santo António milagreiro,
colador da cacaria,
foi por causa do dinheiro
que a tutela fez porcaria.
Se te tivesse devoção,
pedia-te que, no fim deste ano,
acabasses com a avaliação.
pusesses fim a tanto engano.
Imagem roubada aqui.
Se tivesse que ter um santo da minha devoção, Santo António seria o escolhido.
Não tanto por ser quem o santo foi, muito mais por fazer parte do altar da minha infância, quando as memórias eram ainda poucas e muitos os familiares ainda vivos. Um tempo distante em que fazíamos o caminho inverso de outros portugueses - os que abalavam de Lisboa para as suas "terras-natais da província" - e rumávamos à capital, berço da parte feminina da família, no fito de partilhar o Santo António com a parentela do ramo materno. Para a meia dúzia de garotos, que éramos à época, sair à noite e viver a festa nas ruas da grande cidade, no meio da multidão, era um acontecimento único no ano.
Então, pouco me importava quem era este António, baptizado Fernando ao nascer, ou se era de Lisboa ou de Pádua. Estou em acreditar que se o santo cá voltasse, responderia ao exacerbado bairrismo que não é de ninguém mas é de todos, incluindo as árvores, os pássaros e os peixes, seus irmãos pelo preceito franciscano.
Queria eu lá saber da outra vida de António, o doutor e pregador da Igreja, que atraia multidões com a sua palavra.
Conhecia, isso sim, o santo popular e um tanto brejeiro, aquele que partia as bilhas às moças para depois fazer o milagre de colar os cacos.
Hoje sei que nem Santo António, com todo o seu suposto poder taumatúrgico, seria capaz de colar os cacos da escola pública portuguesa!
Ali no alto te deixo, Santo António, um manjerico virtual com umas quadras de pé-quebrado. A ti eu confesso a saudade da alegria daquele tempo acabado e o esforço dispendido para casar a rima com a verdade.
Adenda às 17:15
A poeta cá de casa, já com obra feita e publicada aqui, pegou no mote e deixou escondidas num comentário estas quadras que estavam mesmo a pedir: transplanta-nos!
Ai meu rico Sto. António!
Meu rico Sto. Antoninho!!
Tira esta Ministra de lá;
Ajuda-nos... um bocadinho!!
Nós vamos a todas as "marchas"
Pela Escola Portuguesa,
Havemos de conseguir!...
Move-nos essa certeza.
Boa TVStar! Mais alguém se abalança?
Isabel Preto 14 de Junho de 2009 17:47
Adenda às 21: 55
Seguem-se as quadras do Luís Silva Rosa
Já falei com Santo António,
Com São João e São Pedro
Que com um simples neurónio
Descobriram o segredo:
É ter força de vontade
Trabalhar até ao rubro
Pra conseguir apear
Esta maltosa em Outubro!
Bem-haja Luís.
sábado, 13 de junho de 2009
Ainda as Eleições e...a Abstenção!
Os Portugueses falam, contestam, refilam e...depois ficam em casa e não vão votar!
A consciência de cidadania está a perder-se.
Esta é uma batalha que deve ser ganha quanto antes!
Este texto do nosso amigo/colaborador Luís Silva Rosa, embora escrito há um ano, vem muito a propósito.
A (IN) QUIETUDE NACIONAL
Estamos sinceramente convencidos que a quietude desta terra tem gerado o efeito contrário ao seu exterior.
Neste constante faz que mexe mas não mexe, as pessoas mudam de lugar, umas saem, outras são promovidas, mas no essencial fica tudo mais ou menos na mesma, as políticas permanecem e a terra nem sequer estremece…
Nesta bem estruturada falta de estrutura somos não só sui generis como sobretudo exemplares, se atentarmos que a nossa ancestral tendência para a asneira se tornou numa arte maior.
Fazendo jus à arte, os nossos artistas não se cansam de praticar o quotidiano ensaio, levando a sério a preparação para os espectáculos com que nos brindam amiúde, pouco importando se ficamos indiferentes, aplaudimos de pé ou damos pateada.
Pensando ter finalmente descoberto o rumo certo, caminhamos enganosamente em círculos e, quando já estafados da caminhada nos apercebemos do erro cometido, quedamo-nos à espera que passe a crise, até porque a cabeça ficou toldada com tantas voltas.
É deste modo que enfrentamos as nossas (dis) funções, que praticamos o nosso desígnio, à mistura com provincianos auto convencimentos de que tudo sabemos e tudo podemos.
Entretanto, nos tempos de pausa laboral, entre duas bicas e um pastel de nata certificado, dá-se largas ao mau estar interiorizado destilando-se fel e vinagre, aponta-se o dedo a administrações públicas e privadas, incriminam-se os partidos e o regabofe dos tachos, deita-se abaixo o governo e dá-se uma grande vassourada na poeira assente no parlamento e autarquias. Vai tudo raso, na idílica presunção que o eu de cada um saberia pôr o País na (sua) ordem e viver numa imaculada e paradisíaca república.
Finda a pausa e aliviada a tensão incomodativa, eis que estamos prontos para continuar a jornada de trabalho e arrostar com todo o infindável rol de dislates envolventes, manta imensa e profusamente mesclada que, a pretexto de nos acobertar o emprego e a vidinha, nos atabafa e quase sufoca.
E desta maneira vamos alimentando a (des) esperança de melhores dias, que, longe de assomarem no horizonte, cada vez mais se anicham no nosso imaginário.
De quem é a culpa?
Não faltam candidatos para responder à pergunta, cada um com sua resposta, mas todos têm em comum a certeza que a culpa é sempre dos outros, ou não fossemos nós os espertugueses.
Para nós fica a desagradável sensação, carregada de irónica quase certeza, neste tempo em que os casamentos estão a ser e a durar cada vez menos, de a culpa correr o risco, mais do que nunca, vir a morrer solteira. A menos que…
A menos que a realidade suba àquele canto do cérebro onde as ordens se transformam e assumem novas formas. Aí cessam os desabafos de café e a energia neles descarregada é aplicada no dizer às pessoas certas no momento certo do que somos capazes.
Até lá, resta-nos, de braço dado com o tempo, esperar… e não desesperar, continuando a arcar com impostos sem as correspondentes contrapartidas, com sorridentes hipocrisias, com super vigilâncias mal direccionadas, com laxismos de patrões e empregados, com uma sociedade abusadora e abusada que herdámos deficiente, e deficiente vamos legar aos vindouros se um dia não nos assumirmos como os indivíduos excelentes que nos dizem que somos.
Tardamos em encontrar a cidadania que nos propagandeiam do alto de telhados de vidro, sujeitos a quebrar a qualquer momento sob o peso de sujeitos que para lá treparam às costas e às custas de muitos outros.
Quando ela chegar (a cidadania) já muita água se desperdiçou e poderemos ir tranquilamente pelo leito seco dos rios a caminho do mar, que por ser imenso, talvez ainda não tenha secado.
Para além de toda uma História que teimamos em não aproveitar memória, hoje, ser português significa sobreviver em paz dormente, na dúvida latente de implodir ou explodir.
É a (in) quietude nacional!
Luís Silva Rosa/2008
Chocolate e sardinha assada
Aliás, em termos de comida, do que é que eu não gosto? De vísceras em geral e particularmente de bofe. Iack!
Bom, vamos lá ao que importa que este poste não é para falar dos meus gostos gastronómicos. Antes sim para partilhar convosco estes bombons, achados aí pela rede.
Já estão devidamente linkados ali no canteiro dos cruzamentos, à esquerda, os dois sítios que gostei de descobrir: A REVOLTA DAS FRASES e a DENEGRO (Oficina de Chocolates) - ambos ligados a Maria Almira Soares, figura sobejamente conhecida para quem é da área do Português, a disciplina entenda-se.
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sexta-feira, 12 de junho de 2009
O TRABALHO DOS PROFESSORES
Acontece que, sob a máscara destes grandes desígnios nacionais para a educação, o que se pôs em marcha foi um ataque à Escola e seus agentes, numa ardilosa estratégia de 3 em 1: transformar as escolas em burocráticos veículos de transmissão do poder; submeter os docentes (através do cercear de direitos, da competição desenfreada e do medo); anulá-los enquanto massa crítica.
A principal arma usada no ataque foi transformar os professores no único bode expiatório da má qualidade do ensino público, formatando as opiniões do "povão": eles trabalham pouco e ganham muito, eles faltam que se fartam, eles têm muitas férias, eles são uns incapazes, eles nunca foram avaliados, eles são manipulados pelos sindicatos, eles são medrosos que nem ratos, eles são chantagistas e (ó primor dos primores!) eles são hooligans!
Hoje, os reais e inconfessáveis objectivos da sua política educativa estão cada vez mais à vista: uma vez submetidos, os professores encarregar-se-iam de limpar as estatísticas; reservada a escola pública para quem, de todo, não pode aceder às excelências do ensino privado, diminuiria drasticamente o gasto com a educação.
Volto agora a um dos temas do primeiro poste de ontem: a presidente do Conselho Nacional de Educação e as suas recentes declarações sobre as escolas e os professores, sim porque dos alunos, dos pais, das políticas ministeriais, dos pedagogos e do resto... pouco ou nada.
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Ora, apetece dizer: Onde é que eu já ouvi isto?
Como nestas coisas da escrita, há quem o faça bem melhor que eu, passo a citar o texto de Helena Damião publicado no De Rerum Natura, a 7 de Junho.
Aproveitei e trouxe a imagem e a nota, ambas elucidativas.
Os professores não devem trabalhar mais
Na entrevista que a jornalista Bárbara Wong fez à senhora presidente do Conselho Nacional da Educação encontro cinco passagens em que ela refere que os professores devem passar a trabalhar mais (aqui e aqui). Transcrevo-as:
- “Hoje em dia, temos mais capacidade para resolver problemas, mas para isso, os professores têm que trabalhar mais. Não podem ser só as famílias, embora estas sejam importantes.”
- “… os professores compreendam as dificuldades dos alunos, insistam e trabalhem muito. Isto é muito importante, para poder resolver, porque se não, os professores dão sempre mais do mesmo.”
- “O que proponho não é facilitismo, mas mais trabalho para os professores.”
- “O professor tem que ensinar mais e de outras maneiras.”
- “É preciso encontrar outra solução que é trabalhar mais e ir mudando os percursos.”
As considerações que, de seguida, faço são baseadas no conhecimento directo que tenho do trabalho de muitos professores com quem, por razões profissionais, contactei ao longo do ano lectivo que está a terminar. Tal conhecimento não é, portanto, científico, no sentido de poder apresentar dados fiáveis sobre o mesmo; é do foro da opinião e, portanto, vale o que vale.
1. Para quem não sabe, o horário dos professores é composto pelas componentes lectiva e não lectiva (desdobrando-se esta em duas componentes: não lectiva de trabalho a nível de estabelecimento e não lectiva de trabalho individual), remetendo, cada uma delas para inúmeras tarefas que todos os professores, sem excepção, têm de desempenhar. A senhora presidente do Conselho Nacional da Educação terá em mente que os professores trabalhem mais nas duas componentes ou só numa delas e, se for este o caso, em qual delas?
2. Neste momento, esses professores que conheço dizem-me, e eu acredito, que não podem trabalhar mais, que lhes é humanamente impossível acrescentar mais tempo e mais tarefas ao que já fazem.
3. Acresce que esses professores, por se importarem com as aprendizagens e com os seus alunos, denotam uma fadiga extrema e um desapontamento enorme por sentirem que, apesar de todos os seus esforços, não conseguiram, durante o ano, fazer o que acham que deviam ter feito: ensinar bem.
4. Esses professores também me manifestam perplexidade, porque, à semelhança da senhora presidente do Conselho Nacional da Educação, toda a gente lhes diz que têm de ensinar “de outras maneiras”, de “ir mudando os percursos”, como se se soubesse, obviamente, quais são eles. Porém, a verdade é que ninguém, por mais especialista que se apresente, se atreve a dizer quais são essas “outras maneiras”, esses “percursos” que se insinua resolverem os problemas com que os professores se confrontam no dia-a-dia.
Não, os professores não “têm que trabalhar mais”: os professores têm, sobretudo, de desempenhar menos tarefas burocráticas. E as tarefas que lhe são atribuídas têm de ser menos dispersas, e convergir para a função de ensino. Isto para que os professores possam trabalhar melhor.
Nota: O leitor que tenha curiosidade em conhecer melhor as funções que estão atribuídas aos professores, deve consultar o Decreto-Lei n.º 15/2007, de 19 de Janeiro (Estatuto da Carreira Docente) e o Despacho n.º 19117/2008 de 17 de Julho (que orienta a elaboração dos horários dos docentes). Estes documentos, apenas darão uma pequena visão das totalidade de tarefas que os professores efectivamente desempenham.
Já agora leia também:
As duas vestais do sagrado altar do eduquês
que eles não desarmam tão facilmente...